Voltar pra casa talvez seja uma das sensações mais prazerosas que temos, não apenas porque existe toda a ideia de conforto e aconchego em se estar num lugar familiar, mas também porque nosso travesseiro já abraça nossa cabeça perfeitamente, nossa xícara lascada na ponta deixa o café mais gostoso, nossa mesa levemente bamba já está milimetricamente ajustada para não pender para a esquerda e, ainda que tudo isso não passe de meros detalhes, a familiaridade de lidar com esses objetos cotidianamente é quase como um abraço quentinho em um dia frio. Por isso que viajar é incrível, a sensação de viver em um lugar que não é nosso com a ideia de que quando aquilo acabar poderemos levar toda essa experiência para o nosso lugar seguro é inestimável.
Também existe uma dualidade quando conhecemos o diferente, sempre que alguém sai do país, ou até mesmo do estado, o assunto sobre o destino ter uma grande diferença cultural, arquitetônica, gastronômica é levantado, entretanto quando viajamos o diferente sempre somos nós e a experiência de poder contar as impressões que o destino nos causa só existe após voltamos para o lugar familiar, portanto, voltar para casa pode ou não ser a melhor parte da viagem, entretanto é um passo significativo para assimilar tudo que aconteceu nessa aventura de explorar o desconhecido. Ou seja, comer crepes em Paris no café da manhã e almoçar uma pizza individual em Nápoles só vai ser uma experiência exótica quando voltarmos para nossas casas e contarmos para os amigos como aquela pizza, do tamanho de um prato, era incrivelmente grande para uma pessoa sozinha. As fotos ainda ajudam a evocar as memórias e trazer um pouco desse gostinho para os que não foram e, talvez a parte mais empolgante para aqueles que ficaram aqui enquanto um conhecido saia de viagem, os souvenires e bibelôs que sempre trazemos como lembrança são, sem dúvida, a forma mais fidedigna de tornar essa experiência mais familiar.
Por isso é tão interessante quando nossa casa emoldura fotos de paisagens que não são cotidianas, miniaturas de monumentos enfeitam as prateleiras e até imãs de geladeira formam uma linha do tempo, mais ainda, quando nossas experiências inundam nosso repertório e, de uma hora para outra, nossa sala de jantar ganha uma releitura tropical das boiseries francesas, a adega vira um pedacinho do Chile e até mesmo o espacinho do café passa a ser uma passagem no tempo para Lisboa com xícaras adornadas. No fim, viajar é necessário para criar recordações e, sempre que elas aparecerem, termos histórias para contar.
Pode parecer bobeira que um pratinho pendurado na parede com duas pessoas dançando tango desenhadas em tinta acrílica se compare à experiência de caminhar no Porto Madero e ver a silhueta elegante da Puente de la Mujer, e de fato é, nada vai ser igual ir até um lugar diferente e ver, ouvir e sentir aquele espaço, por isso mesmo gastamos tanto tempo e dinheiro para fazer essas travessias transatlânticas, porém essas pequenas recordações cotidianas são mais do que meros bibelôs, a função estética e ornamental muitas vezes não é a principal ou sequer existe, essas coisinhas estão ali para que, todo dia depois de acordar e ir lavar o rosto a gente passe pelo globo de neve da Times Square e se lembre do frio que era ver a bola descendo no meio da neve enquanto todos faziam uma contagem regressiva para o ano de dois mil e treze, muito mais do que um enfeite, a nossa casa muitas vezes é um livro cheio de histórias esperando um ouvido atento para escutá-las.
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